Geral 01/12/2011

Corre-corre de negócios

Profissionais usam a febre da corrida de rua para trocar cartões , captar clientes e até cavar emprego


Para diversas empresas, a corrida é um tremendo negócio. O esporte tem atualmente cerca de 4 milhões de praticantes no Brasil. Considerando as maratonas, meia maratonas e provas de rua de baixa quilometragem (5 quilômetros, por exemplo), há mais de 600 eventos por ano, 200 deles só na cidade de São Paulo. Esse corre-corre movimenta anualmente 4 bilhões de reais por ano, gerando receita para companhias de vestuário, ténis, suplementos vitamínicos e equipamentos para corrida, como relógio. A atividade ajuda a amenizar ou controlar fatores como obesidade, estresse, diabetes e colesterol. Correr, enfim, torna o sujeito mais saudável. Há também quem aproveite os treinos e as provas de rua para trocar cartões , captar clientes e até mudar de emprego.


Adepto do esporte, que pratica intensamente há sete anos, o empresário Henrique Netzke, de 26 anos, sócio da desenvolvedora de softwares GHN Soluções , de Curitiba, no Paraná, perdeu a conta de quantas vezes fez contatos profissionais, contratou ou viu alguém ser contratado por meio do esporte. Com base nessas experiências, a empresa dele desenvolveu o Linhadechegada.com, rede social voltada a praticantes de corrida de todo o Brasil. Por meio do site, gratuito, pode-se planejar o calendário de provas, produzir estatísticas sobre o próprio desempenho nos treinos e provas e compartilhar informações com outros praticantes. Lançado há um ano, já conta com 4.000 associados. Henrique ressalta apenas que, mesmo com a possibilidade clara de turbinar a rede de contatos com as corridas, ninguém deve começar a praticar o esporte de olho nesse tipo de vantagem - a exemplo do que, em certo momento, chegou a acontecer com o golfe. "O grande barato das corridas é justamente o anonimato", afirma Henrique. "Quando as pessoas estão ali, não importa se são presidentes de multinacionais ou operários, pois são apenas colegas de corrida. É a partir desse dado em comum que talvez nasça algum tipo de afinidade."


Hericka Rebello é a gerente de recursos humanos da Alterdata, uma desenvolvedora de sistemas de tecnologia da informação sediada em Teresópolis, no Rio de Janeiro. Há dois anos, ela começou a correr, quando a organização contratou uma personal trainer para orientar quem estivesse interessado em praticar o esporte. Depois do entusiasmo inicial, restaram exatos 11 funcionários, além de Hericka, que levaram o desafio a sério e passaram a treinar de três a quatro vezes por semana. Esse grupo, composto de sete mulheres e cinco homens, participa de pelo menos uma prova por mês, a maioria no Rio de Janeiro. A equipe conta sempre com o patrocínio da companhia, que paga as inscrições e assegura transporte e alimentação. Além dos benefícios à saúde, Hericka começou a perceber que as corridas podem ser proveitosas para contatos profissionais. "Em cada prova, conhecemos gente e divulgamos o nome da empresa", diz. O primeiro resultado prático está em vias de se concretizar: a contratação de um funcionário de um concorrente que Hericka conheceu numa prova. "Ele me viu com o uniforme da empresa e veio conversar", conta Hericka.


No fim de julho, a equipe feminina da Alterdata comemorou o terceiro lugar de uma prova de 5 quilômetros da Corporate Run, organizada anualmente no Rio e em São Paulo com o objetivo de promover a confraternização entre equipes patrocinadas por empresas. Participaram funcionários de organizações como Vale, Peixe Urbano, 0i, Glaxo Smith Mine, Ipiranga, Bradesco, L Oréal e Fundação Getulio Vargas, entre quase 6 000 pessoas. Em setembro, a etapa paulistana atraiu 9.000 corredores.


As corridas podem ser o caminho para uma pessoa se sentir mais valorizada e integrada à companhia em que trabalha. Foi o que aconteceu com Maria lolanda Maciel Lima, técnica em terceirização do Laboratório Sabin, de Brasília. No início do ano, a empresa lançou um desafio aos colaboradores: montar uma equipe para participar da Meia Maratona do Rio de Janeiro, em agosto. Aos 29 anos, Maria não praticava nenhum esporte e tinha um cotidiano sedentário, que resultou em sobrepeso - quase 100 quilos para 1,78 metro de altura. Ela decidiu se inscrever no grupo de corrida e se dedicou intensamente aos treinos. No primeiro dia não conseguiu ir além de meio minuto, mas foi superando etapa por etapa até no fim de julho, à impressionante condição de correr 21 quilômetros sem parar, exatamente a distância da prova carioca. O caminho de evolução exigiu um programa de reeducação alimentar e treinos diários (três vezes por semana correndo e três vezes na academia, com folga apenas aos sábados). Ela perdeu nove quilos e ficou muito mais disposta. "Tudo isso aumentou a minha autoestima e me tornou mais conhecida na empresa. As pessoas admiram a minha força de vontade e virei exemplo para muita gente", diz.

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