Geral 05/03/2014

Condomínios para a terceira idade

Os brasileiros têm hoje uma expectativa de vida muito maior que a da geração de seus pais e avós, vivem em geral com mais qualidade e mais saúde ? e têm menos filhos. Combinadas, essas mudanças aos poucos começam a trazer uma outra transformação: a dos arranjos domésticos que esses cidadãos fazem ao encerrar sua fase de atividade profissional. É provável que, como nos países europeus ou nos Estados Unidos, os idosos não mais queiram ou não possam morar com os filhos e ser cuidados por eles, e desejem preservar tanto quanto possível a independência e a privacidade que usufruíram durante toda a vida. Um sintoma dessa mudança é que nesta última década o Brasil começou a presenciar o surgimento de condomínios exclusivos para idosos, nos quais eles podem morar com conforto (mas sem os afazeres e as preocupações com empregada e encanador de quem tem de manter a própria casa), junto de pessoas da mesma idade, recebendo a assistência médica necessária e contando com opções de lazer e entretenimento. Apesar de essas comodidades estarem ainda restritas a uma parcela de classe alta, os geriatras e outros especialistas da área avaliam que esse é um nicho de mercado que deve crescer e ficar cada vez mais acessível do ponto de vista financeiro.


COMO SÃO AS INSTALAÇÕES?


A maioria das residências segue o padrão de um pequeno flat: o espaço privativo inclui apenas quarto, banheiro e, às vezes, uma sala de estar. A ênfase recai sobre os serviços e as áreas comuns. Os bons condomínios oferecem uma grande gama de atividades aos residentes, desde fisioterapia e hidroginástica até salão de jogos e aulas de memória, artesanato e música. Nos mais luxuosos, costuma haver ainda academia, salão de beleza, sala de cinema e biblioteca. A ideia é que o residente crie a rotina que mais lhe agrade: se é caseiro no temperamento, encontrará tudo aquilo que quer ou de que necessita ao seu redor; se é "saideiro" e está com boa saúde, pode ir e vir quanto quiser, mas terá sempre o amparo de uma infra estrutura completa. É possível inclusive procurar uma situação semelhante à qual se estava habituado: embora os edifícios sejam mais comuns, há também residências com jardim para o pessoal que sempre gostou de morar em casa e acha que não vai se adaptar a um apartamento.


QUANDO O RESIDENCIAL É UMA OPÇÃO?


Com a nova legislação sobre os direitos dos empregados domésticos e o consequente aumento dos encargos trabalhistas, muitas famílias que recorriam a cuidadores para acompanhar seus parentes idosos começam a cogitar sua transferência para um residencial. A decisão, porém, não é simples. Se para um idoso europeu ou americano seria angustiante depender dos filhos, ou ter de delegar a eles o planejamento dessa fase de sua vida. No Brasil, ao contrário, a ideia de que os filhos não se responsabilizarão por abrigar os pais quando estes não mais puderem morar sozinhos é ainda cercada de preconceito e encarada como abandono ou frieza. Por isso, antes de mais nada é preciso que todos os membros da família estejam de acordo, explica o geriatra Wilson Jacob Filho, diretor do serviço de geriatna do Hospital das Clínicas. A começar, é claro, pelo próprio protagonista do enredo.


PARA QUEM O CONDOMÍNIO É IDEAL?


Se a família sente que as limitações físicas ou cognitivas do idoso estão avançando além dos cuidados que ela pode oferecer, o residencial com amparo especializado pode ser uma opção sensata, claro. Mas é justamente ao idoso saudável que esse novo modelo de condomínio pretende trazer mais satisfação: àquela pessoa que não quer abdicar de sua independência para ir viver com os filhos (ou está experimentando essa alternativa sem muito sucesso). "Mesmo quando mora com a família, o idoso pode se sentir isolado, desprestigiado ou posto de lado: é comum que os parentes estejam ocupados com as próprias atividades e pouco fiquem em casa", diz Clineu Almada Filho, geriatra da Unifesp. O idoso pode sentir que foi acomodado num canto improvisado da casa, que sua participação nos afazeres cotidianos é mal recebida, que sua vida social está limitada por não poder receber amigos como desejaria, ou que está sendo colocado numa situação de dependência incômoda - se tem, por exemplo, de pedir "carona" e contar com a boa vontade alheia sempre que quer sair. Essas são as situações do dia a dia que a vida em condomínio pode solucionar.


O QUE SE DEVE OBSERVAR?


Os especialistas recomendam ao idoso ou à sua família visitar várias vezes, em horários diferentes, os condomínios que têm em vista, inspecionar todas as instalações em detalhe e fazer algumas perguntas cruciais:


A higiene e a limpeza das áreas privativas e comuns estão nos padrões ideais?

A cozinha é bem instalada?

Os residentes estão bem-vestidos e bem penteados? Estão entretidos ou parecem entediados?

O local está todo adaptado para que os idosos se locomovam sem risco?

Os ambientes são bonitos e agradáveis? Você se sentina bem se tivesse de passar periodos prolongados neles?

A equipe é eficiente, bem apresentada e respeitosa?

A roupa de cama está nova e recém-lavada?

As refeições são frescas, fartas e apetitosas? As restrições alimentares dos residentes são escrupulosamente observadas?

0 condomínio organiza passeios e saídas para os residentes aptos a participar deles?

Qual é a política do residencial sobre os horános de visita e o eventual pernoite de acompanhantes?

A assistência do pessoal de enfermagem é constante ou periódica?

Se o residente vier a manifestar problemas de saúde depois da mudança, o condomínio poderá mantê-lo? Haverá alteração nas condições contratuais?

O contrato detalha todas as obrigações do condomínio e as da família?

QUANTO CUSTA?


As mensalidades dos condomínios para idosos variam muito, já que o padrão de salários, de construção e do mercado imobiliário de cada localidade tem enorme impacto sobre o custo. As necessidades particulares de cada hóspede também podem influir no preço: a maioria dos residenciais realiza um check-up e faz uma avaliação dos requisitos de seu novo morador. O condomínio pode, por exemplo, solicitar que ele disponha de um acompanhante 24 horas ou de cuidados médicos específicos. Em resumo, sai caro. Uma maneira de colocar os custos em perspectiva, porém, é calcular quanto seria preciso despender para criar uma situação semelhante na própria morada do idoso, somando aluguel, condomínio, manutenção e os honorários dos empregados e/ou cuidadores. E, claro, computar também um dado subjetivo, mas decisivo: a avaliação do próprio idoso sobre o bem-estar que cada situação pode proporcionar a ele.


Na mira das construtoras.


Atentas ao crescimento da população de idosos no Brasil, as empresas de construção civil oferecem um pacote de soluções e facilidades para os apartamentos em lançamento, com alterações que podem ser feitas ainda na planta. "O envelhecimento da população brasileira está movendo o mercado imobiliário. Pesquisas mostram que mais de 15% dos compradores são pessoas acima de 60 anos. Ou seja, não é uma fatia irrelevante", explica Octavio Flores, diretor de negócios da Gafisa. Alterar a largura da porta, instalar barras de apoio no banheiro, nivelar o piso de todos os cômodos e mudar a altura das tomadas são algumas das solicitações possíveis. Em todos os novos empreendimentos da Tecnisa, que possui um projeto voltado para a gerontologia, é feito um estudo de adaptações, inclusive nas áreas comuns. "Na piscina, por exemplo, as escadas são de alvenaria e os pisos têm acabamento fosco, para impedir que as pessoas escorreguem. Nas áreas comuns, evitamos usar tapetes na decoração e damos preferência a poltronas, com braços para apoio", diz Gisele de Luca, gerente de desenvolvimento de produtos da construtora.