Um jardim de possibilidades
Nem precisa avisar que a primavera está próxima. Basta dar uma espiadinha nos vasos de casa. Uma flor nova desponta e a gente já sabe que ela está chegando. É como se as plantas avisassem: olha pra cá, hora de arrumar este jardim! A essa altura, já bem castigado pelos dias de frio e pela ausência de cuidados durante o inverno... Hora de ir ao mercado de flores, comprar terra nova, replantar, investir finalmente num canteiro de ervas, mesmo que ele seja de proporções mínimas, cultivado num simples vaso pertinho da janela. Sempre que começo a cuidar das minhas próprias plantas, nessa época do ano, sinto um nervoso de estreante. De quem, sem querer, começa a olhar mais pra dentro. A buscar o entusiasmo perdido em tardes ociosas de cobertor e filminho na tevê. Ou na avalanche de compromissos realizados e adiados da primeira metade do ano que, puf!, já passou. Colocar a mão na terra, remover ervas daninhas que invadem o espaço alheio sem cerimônia, esvaziar a floreira, começar do zero a montar camadas que farão as plantas ficarem bonitas de novo. Funciona assim: primeiro uma camada de pedriscos ou argila expandida, depois um pouco de areia, completa com terra, coloca a muda, completa com mais terra, afofa com delicadeza, rega e, sem fazer esforço, a cabeça já está repleta de boas expectativas. De que as plantas cresçam com folhas graúdas e tenham muitas flores. De que as ervas virem logo grandes fontes de temperos para as novas receitas que você quer testar. De que frutinhas surjam num dia qualquer, quando menos se espera. Quando se dá conta, o exercício de jardinagem doméstica virou uma espécie de meditação. E você já planeja os próximos passos, como se fosse janeiro, como se fosse a primeira vez. É assim que a primavera chega em casa e também na nossa vida.
Chris Campos é jornalista e escritora, criadora do
site Casa da Chris e autora dos livros “Casa da Chris” (Editora Record), “Assim te Conquistei” (Versar) e “Almanaque das Festas Instantâneas (Memória Visual)
