Sem medo de errar
Já reparou o quanto é difícil se libertar do medo de errar na hora de decorar seu próprio espaço? É a famosa síndrome do sofá bege. Na dúvida, quase todo mundo vai de bege – tão sem graça quanto medroso. Sofá amarelo, laranja, azul-turquesa, já pensou nisso? Difícil alguém ter coragem, assim de primeira, para encarar uma mudança de hábito tão colorida. “Ousadia demais”, murmuram consumidores temerosos. Pois o medo de ousar está diretamente relacionado ao medo de errar. Se o sofá turquesa estivesse na sala da personagem rica da novela das oito, aposto que todo mundo ia querer. Ousadia sim, mas só se aparecer na tevê primeiro. Pois acho que está mais do que na hora de encararmos nossos gostos e escolhas de maneira mais livre. Acredito que já conquistamos maturidade estética suficiente para assumir pequenas extravagâncias do dia-a-dia. E não é só no sofá. Escolher uma cortina estampada, uma luminária em formato de cachorro, exibir tapete de bicho na entrada da casa, empapelar uma parede enorme da sala – de preferência com um tema bem exuberante.
Pouca gente ousa, mas que tal tentar? E colocar a luminária do escritório na cozinha, só para ter uma luz mais aconchegante na hora do jantar? E comprar lençóis zebrados em vez de se render aos jogos do tipo branco total radiante? Você não precisa fazer tudo ao mesmo tempo agora ou se transformar, do dia para noite, em um cenógrafo almodovariano. Mas pode se render hoje mesmo a uma primeira ousadia do seu lar. Começar os trabalhos escolhendo novos panos de prato para a cozinha ou se rendendo de vez a uma poltrona amarelo-ovo. Só para ter o gostinho de arrancar o bege da vida. Ausência de cor, ou medo de assumir as próprias vontades, é para covardes.
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