Casa exibida
Outro dia um amigo entrou em casa admirado. Era dia de festa, a cozinha escancarada para todos. Festas que começam na cozinha são muito promissoras... Disse meio que sem pensar: “Mas é sempre tudo arrumado assim?”. Ficou admirado com a cozinha aberta e lembrou da própria: “Lá em casa a gente fecha a porta para as visitas não verem a bagunça”, disse, já rindo de si mesmo – rir de si mesmo é prova de inteligência, sempre achei. E o comentário me fez pensar sobre como quase todas as casas têm um lugar da bagunça. E ainda sobre a idéia de ele ser mesmo necessário. Não seria melhor não ter bagunça em lugar algum? Digo isso não como uma general das prendas domésticas. Mas como dica prática. Se todos os ambientes da casa são dignos de receber visitas, é sinal de que não tem coisas desnecessárias por perto – a bagunça entre elas.
Sei, sei bem o que você está pensando agora. Mas e o famoso quartinho da bagunça, aquele em que você arremessa tudo o que vê pela frente sem pestanejar? Pois até ele fica melhor com uma certa ordem. Prateleiras, cestos e caixas existem para facilitar nossa vida e, de quebra, deixam o lugar com um visual mais apresentável. No quartinho da bagunça lá de casa, dá para encontrar tudo em segundos. Não é uma lindeza, obviamente. Mas dá para arriscar levar uma visita junto na hora de buscar suprimentos do freezer. Já a questão da cozinha... Essa me intriga até agora. Sou do tipo que lava-louça antes de dormir. Não por fanatismo de limpeza, mas pelo prazer de acordar e poder bagunçar tudo de novo, sabe como?
Em dia de festa, gosto de arrumar a cozinha como arrumo a sala. Coloco flor nos vasos, acendo as luminárias para evitar o efeito desagradável e pouco aconchegante da luz fluorescente, crio ambientes para as pessoas se instalarem confortavelmente. Esconder um ambiente tão interessante do olhar das visitas e do meu próprio, no dia-a-dia, seria um desperdício de espaço, eu acho... E olha que lá em casa também fritamos bifes, deixamos o café derramar no fogão e, vira e mexe, cai migalha de pão no chão. A vida é cheia de imprevistos, mas podemos conviver um pouco mais harmoniosamente com eles.