Acumuladores
Ouvi dizer que há um programa chamado “Acumuladores” na tevê a cabo. E que ele faz muito sucesso entre os telespectadores. Nunca assisti, mas acredito que seja realmente um hit. Acho que, no final das contas, todos somos um pouco acumuladores em território doméstico. Por mais organizada que a pessoa seja, há sempre um cantinho em que despejamos nossas coisas desordenadamente. Moedas, recibos, chaves, papeizinhos... Quem nunca “socou” tudo dentro da gaveta mais próxima da porta de entrada? “Depois eu arrumo” é o mantra coletivo, repetido internamente como a mesma certeza que temos de que vamos jogar a roupa usada sobre a poltrona do quarto ou em um cantinho do banheiro. Você nunca fez isso? Tem certeza? E o famoso quartinho da bagunça? Aquele lugar em que colocamos tudo o que nunca vamos usar ou, com sorte, usar umas duas vezes na vida. É lá que ficam caixas vazias, brinquedos quebrados, ferramentas inúteis, papéis que nunca mais leremos. Pode ser um vão sob a escada do sobrado ou o minúsculo quartinho dos fundos do apartamento. O banheiro de serviço, talvez? A questão é que sempre damos um jeito de deixar nossas sobras em algum cantinho da casa. Não sou psicanalista, nem leitora de mentes. Mas tenho cá minhas suspeitas de que repetimos com objetos do cotidiano o mesmo gesto que, sem perceber, temos com pensamentos inconvenientes. Quantas vezes você já não se flagrou arrastando para um cantinho da mente pensamentos que tem medo até de lembrar? Será que, também sem querer, não fazemos o mesmo com as coisas? Para os iogues, esvaziar a mente é o melhor caminho para alcançar o equilíbrio. Um exercício que praticantes e simpatizantes se esforçam para fazer – ao menos durante as aulas. Esvaziar a “mente” da casa me parece agora uma solução das mais felizes para acabar de vez com essa história de deixar o que você não quer nem pensar em ver em um canto qualquer do lugar em que vivemos. É preciso treino, mas acho que conseguimos.