Diretor da Tecnisa escreve artigo para revista Soluções.
TUDO VAI VIRAR BIT.
Ao que tudo indica, em breve viveremos em uma sociedade "pailotada" - as nossas vidas estarão embutidas em um PDA qualquer que poderá ser chamado de smartphone, palm pilot etc. Só em 2007 foram comercializados no Brasil aproximadamente 500 smartphones, um número ainda inexpressivo se comparado com o mercado de 100 milhões de usuários de celulares. Um aparelho de telefone celular, hoje, faz tudo, inclusive ligações.
Tenho curiosidade em saber como o nosso fisco tributará o abalante iPhone. Afinal, no Brasil, ele não é considerado um telefone, uma vez que formalmente nenhuma operadora está autorizada a habilitá-lo como celular. é evidente que já há centenas deles funcionando no mercado cinza. No entanto, há também centenas de pessoas que estão usando esses aparelhos como tocador de mp3, câmera fotográfica, gravador de áudio e video ou agenda eletrônica - alguns mais exibidos os estão usando como acessório de moda. O iPhone e outras centenas de aparelhos estão preparados para receber todo e qualquer conteúdo em texto, áudio e vídeo - informação em forma de bit.
Muitas indústrias vão ter que se readaptar, mudar seu core business e desenvolver novas competências. Certamente muitas delas desaparecerão. A companhia japonesa de filmes Fuji se autodenominava FujiFilm. E eu pergunto: onde está o filme? Em menos de oito anos, ela sofreu a concorrência de dois tipos de indústrias: as de eletroeletrônicos, que começaram a produzir máquinas digitais ? Mitsubishi, Sony, Samsung, etc -, e, mais recentemente, as fabricantes de celulares. A Nokia é hoje a maior fabricante de celulares com máquinas fotográficas embutidas. As redes de lojas fotográficas, que se vangloriavam de revelar seus filmes em menos de uma hora, sofrem uma concorrência implacável das lojas de e-commerce, que fazem o mesmo serviço sem que você tenha que sair de casa para comprar e revelar o seu filme.
Outro segmento que vê seu negócio agonizando no médio prazo é o de aluguéis de filmes. Esse conteúdo também está se "bitizando". A indústria fonográfica já acusou o golpe. E o nosso tradicional dinheiro também está se digitalizando. Estima-se que, em 2015, menos de 10% do dinheiro circulante no mundo será em espécie. O dinheiro também se encaminha para a " bitização".
No Brasil, já há mais de 200 mil usuários cadastrados para efetuar pagamentos através de celulares, desbancando definitivamente o uso do dinheiro e do cheque. Este último está sendo sepultado de forma inclemente e o dinheiro de plástico está sendo atropelado pelas transações digitais.
A própria Telefônica sofreu uma transmutação espetacular nos últimos anos. Conhecida por todos como uma empresa que basicamente comercializava voz, hoje podemos afirmar que voz é uma das formas de monetizar o seu negócio. Afinal, ela vende voz, dados, banda larga, TI, manutenção, TV a cabo, leasing para computadores, outernet e sei lá o que vem pela frente em termos de produto.
A TV digital também abre uma nova fronteira, com tantas possibilidades que os próprios produtores reconhecem não saber direito o que poderá ser feito. Sabem apenas que no futuro ninguém mais terá os seus 15 minutos de glória na vida, e sim os seus 5 gigas ou centenas e milhares de downloads, métrica esta muito usada para determinar a popularidade de um conteúdo em vídeo.
Tenho poucas certezas sobre o futuro: uma, eu sei que vou morrer; outra, a certeza sobre as minhas próprias dúvidas; e a última é que tudo que pode ser escrito, falado, ouvido e visto vai virar bit.