Como você percebe a realidade?
Carlos Alberto Júlio*
Quem transforma informação em instrumento de trabalho? é incrível como o processo de capacitar os novos profissionais a formularem conceitos e a efetuar julgamentos corretos ainda é fonte de insegurança nas empresas. E isso não se aplica somente aos executivos.
Se desejo qualidade, necessito de uma visão crítica da realidade. Imagine uma empresa fabricante de calças. Em algumas ocasiões, é possível que alguém tenha de decidir se é mais lucrativo comprar tecidos de um fornecedor nacional ou de um concorrente asiático. Nacionalismo à parte trata-se de uma dúvida freqüente no mundo globalizado.
Em outras ocasiões, a decisão se dará internamente, em casa, na linha de produção. Alguém, um supervisor talvez, terá de decidir se um determinado rolo de tecido será ou não utilizado na confecção de peças. Esse funcionário, evidentemente, deverá ser ?educado? para analisar a matéria-prima e escolher a alternativa correta. ?Este lote é bom mesmo? Vai se transformar numa calça de qualidade? Será aprovada por nossos clientes??
E aqui vai o alerta! Não basta o know-how dos processos atuais. Deve-se ter em mente o devir dos métodos e instrumentais de produção. As empresas não têm mais tempo para treinar seus funcionários porque as tecnologias são tão perecíveis quanto caquis. é necessário, portanto, ter um olho sempre no futuro, no que é novo e emergente. Há pouco tempo, essas transformações muito se restringiam aos produtos e serviços comercializados. Hoje, aplicam-se também aos modelos de gestão, às formas de atender ao cliente, e às estratégias de marketing.
Como tratamos de conhecimentos mistos, com múltiplas causas e efeitos, voltamos novamente a uma questão conceitual. O que é, na verdade, a percepção que temos do mundo? Duas pessoas que testemunharam a mesma colisão de veículos têm versões diferentes para o acidente. A verdade é que a mente humana costuma preencher lacunas, os vazios de informação, com aquilo que lhe parece mais lógico. Nem sempre nos damos conta do que é real. O mesmo ocorre nas empresas, por exemplo, no âmbito da gestão, da formulação de estratégias ou mesmo na escolha de campanhas publicitárias.
Muitas vezes, um clima de pessimismo, criado, por exemplo, por conta de fatores políticos, pode contagiar nossa percepção de mundo, inibir investimentos seguros, frear equivocadamente o desenvolvimento de um projeto. Do ?catastrofista? ao ingênuo otimista há uma longa escala de tipos humanos que tendem a distorcer, para mais ou para menos, a realidade. Se o conhecimento depende da percepção, também é verdade que a percepção se torna mais clara e precisa na mente dos que conhecem, dos que exercitam com disciplina as habilidades cognitivas.
O que eu quero dizer é que nossas percepções nem sempre identificam o que os olhos vêem, ou o que nossos ouvidos escutam, mas sim a imagem mental que construímos do mundo exterior dentro do nosso interior. E tudo isso tem a ver com os nossos sentimentos, com a forma pela qual os estímulos são percebidos pelo nosso corpo, pela nossa mente e respondidos muitas vezes pelo nosso coração. O universo tem o retrato que você der para ele. Poderíamos dizer que as sensações são provocadas por estímulos físicos e as percepções por estímulos psicológicos.
Confuso? Nem tanto! Para fazer as escolhas certas, para tomar decisões importantes na vida pessoal e profissional, para traçar um caminho rumo à conquista de nossos desejos, é fundamental saber aonde queremos chegar. Alguém já disse que a vida é a arte das escolhas. E como é possível fazer as escolhas certas se muitas vezes não sabemos o que queremos para nós mesmos? Toda empresa deve escolher o caminho que a leve a alcançar os objetivos desejados, partindo de uma realidade conhecida e estudada. Ou seja, toda empresa deve ter estratégia. E, nenhuma boa estratégia nasce por geração espontânea. é preciso que pessoas bem preparadas a elaborem. A nova ordem mundial determina que é preciso fazer planejando, ou sonhar realizando. Mas como fazer tudo isso sem percepção?
Priorizar não tem segredo. é decidir o que vem antes, tanto na linha do tempo como na fila dos recursos. O desafio está em tomar essas decisões. E a tomada de decisões é um processo interpessoal, envolve pessoas, percepções.
Nosso mundo é o que construímos para nós. E nossas percepções, são fruto de nosso passado. São elas que constroem as páginas de nossas vidas, são as molas propulsoras do que seremos amanhã. Porque a realidade só existe nas percepções.
* Carlos Alberto Júlio é presidente da Tecnisa e membro do Conselho de Administração da HSM do Brasil. Contato:
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