Geral 22/12/2013

O que as melhores têm para ensinar

Do lado de fora, pisos permeáveis de poliuretano e pedra evitam acúmulo de água em estacionamentos e calçadas. Do lado de dentro, paredes de blocos estruturais leves como isopor isolam o som e mantêm a temperatura confortável no verão ou no inverno.


Tintas especiais refletem a luz para limitar a absorção de calor. A CasaE, construída pela Basf na Zona Sul de São Paulo, consome 70% menos energia. O ?e? representa uma síntese de eficiência energética. Inaugurada este ano, a CasaE brasileira é a primeira da Basf a reunir características próprias para o clima tropical e a nona erguida pela companhia no mundo. E é um exemplo de como a Basf inova, com foco nas megatendências. No caso, considera um mundo de recursos finitos e cada vez mais populoso, idoso e urbanizado.


Nos 400 metros quadrados do imóvel, são apresentadas 28 das mais modernas tecnologias desenvolvidas pela Basf aqui e no exterior. Parte do que está lá, algo como 40% do material empregado, nem está ainda disponível no mercado. Mas a ideia é de que seja lançado em breve, segundo Michel Mertens, vice-presidente sênior das divisões de químicos e de produtos e materiais de performance para a América do Sul.


Principal mercado da Basf na América do Sul (cerca de 70% das vendas), o Brasil tem 470 funcionários ? do total de 4,5 mil ? dedicados exclusivamente ao desenvolvimento de novas tecnologias e à adaptação das criadas lá fora às peculiaridades locais.


Em 2012, a Basf registrou 1.167 novas patentes no Brasil. Das quase 6 mil que tem na América do Sul, 3,5 mil saíram dos laboratórios da companhia no país, de parcerias com universidades locais, de prêmios internos de inovação e de grupos de discussão com clientes, fornecedores e especialistas em diversas áreas. ?É um processo enraizado, com metas, recursos, processos e indicadores?, diz Mertens.


Dow


No lugar de diretoria formal, uma estrutura ágil que identifica e encaminha as demandas dos clientes


Sabe aqueles sachês de plástico que param em pé nas prateleiras dos supermercados, usados para alimentos como ketchup, mostarda, maionese, café? São conhecidos há tempos, e a americana Dow é uma das grandes fabricantes deles. Mas o desenvolvido pela Dow brasileira tem um apelo irresistível: pode ser reciclado. Ele não requer a custosa separação dos materiais do convencional, um verdadeiro sanduíche. ?Nossas equipes desenvolveram um novo material e uma nova forma de combinar plásticos ? abrimos uma ampla frente de negócios?, afirma Pedro Suarez, presidente da Dow para a América Latina.


Com a expansão econômica do Brasil, a empresa americana ampliou investimentos em P&D no país e montou, a partir de 2007, uma estrutura para desenvolvimento de tecnologias locais, mas com possível aplicação internacional. Ideias embrionárias para novos projetos de pesquisa podem vir das mais diversas frentes, dentro e fora da empresa. A Dow não tem uma diretoria formal de inovação. Mas criou uma estrutura em que profissionais de cada unidade de negócios são preparados para identificar e fazer chegar às equipes de pesquisa as demandas dos clientes. ?Cada uma dessas unidades tem seu time de P&D, de marketing e vendas, que analisa oportunidades no mercado?, diz John Biggs, diretor de P&D para a América Latina.


Patrocinadora oficial das Olimpíadas até 2020, a Dow trabalha agora também para criar um legado tecnológico que contribua para a realização de eventos mais sustentáveis no país, com uma evidente janela para o marketing. ?Estamos buscando inovações em quase todas as áreas ligadas à infraestrutura ? das tintas, revestimentos e plásticos, aos fios, cabos e materiais das pistas de corrida?, diz Biggs.


Dupont


Mais de 10 mil cientistas trabalham para resolver os problemas da explosão populacional no mundo


Em uma das unidades do centro de inovação da DuPont em Paulínia (SP), dois jovens acompanham o desenvolvimento de mudas agrícolas sob uma chuva artificial. No bloco ao lado, um técnico coloca à prova elementos de blindagem: dispara tiros na carcaça de um carro. Outra unidade verifica a resistência de vários materiais a ocorrências como corte, choque, temperatura. No total, a DuPont tem sete laboratórios para definir o futuro de produtos em três áreas consideradas chave por ela: alimentos, energia e proteção individual. É o mesmo objetivo dos 150 centros similares mantidos pela companhia no mundo, todos conectados, formando uma rede com mais de 10 mil cientistas e engenheiros.


A base da estratégia de inovação, segundo Victoria Brady, vice-presidente de inovação para a América Latina, é buscar soluções diante da perspectiva de explosão populacional no mundo. Até 2050, prevê a DuPont, serão 9 bilhões de habitantes. ?A necessidade de alimentar todos, depender menos de combustíveis fósseis e proporcionar mais segurança às pessoas são as nossas metas?, diz Victoria.


No último ano e meio, mais de 3 mil clientes estiveram no centro de inovação de Paulínia. Nas conversas, é possível perceber as necessidades do mercado. A partir daí, são contatados outros centros da DuPont no Brasil e exterior, parceiros, universidades e consultorias. Em um banco de dados único é possível verificar se alguém da empresa, em qualquer país, desenvolve projetos semelhantes, para aproveitar as ideias.


Dessa cadeia de inovação surgiu, por exemplo, um defensivo agrícola de alta eficiência, a primeira fibra resistente ao fogo para roupas de proteção e a fibra de aramida leve, flexível e mais resistente que o aço.


Maria Alice Rosa


Whirlpool


A inovação tem medida, como a receita com novos produtos e o número de projetos em desenvolvimento


Uma geladeira e um fogão controlados pelo smartphone e a lavadora que dosa sabão e amaciante conforme o peso das roupas são lançamentos recentes da Whirlpool e exemplos de inovação, segundo a definição da empresa. Têm apelo forte para o consumidor, são inéditos no mercado e trazem rentabilidade para o acionista.


Na Whirlpool a inovação é acompanhada segundo uma métrica própria. ?A inovação só pode ser gerenciada se houver controle?, diz Mario Fioretti, diretor de Design e Inovação da Whirlpool Latin America. ?Se a área comercial toma como meta o volume de vendas, a inovação tem dois números fundamentais: a receita obtida com os produtos, que chamamos de i-revenue, e o volume de projetos em desenvolvimento (i-pipe), carteira capaz de garantir que vamos manter o ritmo de inovação nos próximos anos.?


Hoje, 25% do faturamento da empresa é obtido com produtos pioneiros. A cada ano são lançados 160 considerados inovadores. A Whirlpool tem quatro centros de tecnologia no Brasil, um para cada grupo de produtos ? refrigeração, lavanderia, cocção e ar-condicionado. M.A.R.


IBM


Um novo aplicativo, o Ei!, é capaz de revelar e analisar em tempo real o que todos dizem no Twitter


Fred, Hulk, Neymar, Paulinho, Júlio César, Lucas, David Luiz e Oscar tiveram na Copa das Confederações, em junho, a marcação não só de implacáveis zagueiros de algumas das melhores seleções do mundo. Um olhar muito especial acompanhava os movimentos dos craques brasileiros e do técnico Felipão: o dos frequentadores do Twitter. São habituais torcedores, claro, mas desta vez foi possível saber o que todos achavam, juntos, da atuação daqueles jogadores e do técnico quase instantaneamente. Opinião sobre detalhes, cada jogada mesmo. O sentimento coletivo era monitorado em tempo real nos jogos, o que foi possível graças a um algoritmo desenvolvido pela equipe brasileira da IBM para um novo aplicativo, o Ei!


?Foi um trabalho complexo, mas conseguimos mostrar como os internautas estavam se sentindo, como se manifestavam nas partidas?, afirma Maíra Gatti, pesquisadora de ciências da computação do laboratório da IBM e uma das responsáveis pelo projeto Ei!.


?Tivemos de ensinar ao algoritmo o valor de cada palavra, de cada expressão e, mais, tivemos de explicar a ele o que as pessoas escrevem errado e os apelidos e gírias mais usados?, diz Maíra.


O Ei! identifica também quais comentários são importantes de fato e quais apenas ruído. Faz a análise de sentimento social, útil não só no esporte como também para aprimorar estratégias de marketing das empresas. Depois de analisar mais de 6 milhões de tweets na Copa das Confederações, a equipe da IBM chegou à conclusão de que o Ei! teve acerto superior a 80%. ?Foi um resultado ótimo e agora estamos embalando o produto para ir ao mercado?, diz Maíra.


Tem tudo para ser um sucesso de vendas. Mesmo que não seja, é capaz que a equipe de Maíra receba recompensa financeira, como acontece com outras inovações na empresa. Qualquer ideia capaz de virar patente tem possibilidade de ser premiada com dinheiro. ?O valor varia muito?, diz José Carlos Duarte, diretor de tecnologia da IBM. ?Pode ir de mil a algumas dezenas de milhares de dólares, tudo depende da ideia ou da frequência com que o funcionário apresenta soluções inovadoras.?


É assim que a IBM reúne números impressionantes, como as 6 mil patentes registradas a cada ano em todo o mundo. ?Há 20 anos somos líderes no registro de patentes e investimos, globalmente, US$ 6 bilhões em pesquisa e desenvolvimento?, diz o presidente da companhia no Brasil, Rodrido Kede. ?Para nós, da IBM, inovação e reinvenção são questões de sobrevivência em um mercado tão competitivo.?


White Martins


Quando os produtos são imutáveis, o caminho é inovar na aplicação e nos processos de fabricação


Cilindros de gases medicinais e industriais, como oxigênio, hidrogênio e o próprio ar da atmosfera. Difícil inovar, não? Não. Inova-se na aplicação dos produtos, em parceria com os clientes, e nos processos de fabricação. É assim que a White Martins consegue crescer. ?Temos já grande participação de mercado, cerca de 60%, e nossos produtos são difíceis de exportar?, diz Domingos Bulus, presidente da empresa.


A área de inovação e competitividade conta com 130 profissionais dedicados a descobrir maneiras mais rápidas e baratas de produção. Paralelamente, a gerência de tecnologia e aplicações desenvolve soluções que atendam os clientes e permitam à White Martins vender mais ou abrir novas frentes de negócios. Por exemplo, o tratamento de efluentes, feito normalmente no Brasil com produtos químicos, poderia usar CO2.


Todos os cerca de 4 mil funcionários, porém, são estimulados a contribuir com sugestões, reunidas em um banco de dados. Neste ano, o banco já recebeu mais de mil sugestões, das quais 500 foram transformadas em projetos. Entre eles, está uma nova forma de soldagem com grande potencial de aplicação na indústria naval. Só ele representa uma expectativa de vendas superior a R$ 1,5 milhão em 2013. D.S.


Grupo Fleury


Já é possível dar a paciente e médico não só o resultado do exame, mas informar sobre a suspeita de doença


Não basta ter um banco de dados alimentado com os resultados de 50 milhões de exames médicos de 10 milhões de pessoas, como os processados pelo grupo Fleury só em 2012, de simples hemogramas a complexas investigações. É preciso tirar o melhor proveito possível desse tesouro, e o Fleury encontrou o caminho. ?Tínhamos uma variedade incrível de informações que, se cruzadas, poderiam gerar outras mais preciosas ainda?, diz Marcelo Cardoso, diretor executivo de pessoas, estratégia e inovação do grupo.


Uma premissa colocada foi a de que os resultados dos exames conversassem entre si em tempo real e, mais, que pudessem identificar potenciais riscos aos pacientes ? um desafio respondido com a experiência dos mais de 1,3 mil médicos do grupo e a ajuda de inteligência artificial. ?Procuramos referências em todo o mundo para encontrar maneiras de identificar determinadas doenças com o cruzamento de diferentes dados?, afirma Edgar Rizzatti, gerente sênior de pesquisa e desenvolvimento do Fleury. ?O que, por exemplo, poderia indicar uma redução da hemoglobina e um aumento da ferratina??


Cada grupo de especialistas do laboratório determinou quais combinações de resultados poderiam ser usadas na interpretação das diversas doenças. ?Foi um trabalho longo, de acumulação de conhecimento?, diz Rizzatti. Depois, foi investir em inteligência artificial. Graças a um algoritmo que analisa os resultados automaticamente, os pesquisadores criaram uma espécie de avaliador automático de exames. ?O sistema, é claro, não faz o diagnóstico completo, mas uma recomendação ao médico e uma sugestão de investigação mais detalhada?, afirma.


Em funcionamento desde meados do ano passado, o sistema ajuda a aperfeiçoar uma estrutura de prevenção e especialização montada pelo Fleury com os centros médicos integrados. Em 2012 foram inaugurados mais três: o de medicina materno fetal, o de aparelho locomotor e o de atendimento pediátrico (Vila Saúde). Outros que já funcionavam: de endoscopia digestiva avançada, de neurologia e medicina do sono, de atendimento ao paciente com linfoma e o de apoio e reabilitação de funções urinárias. É algo muito além do diagnóstico e talvez até da prevenção. Qual será o próximo passo?


Embraco


Uma estrutura com 40 laboratórios lança inovações como o metal que dispensa óleo lubrificante em motores


Quem vê os grandes números da Embraco pode imaginar que ela seja dona de uma gigantesca frota mundial: consome 6 milhões de litros de óleo lubrificante por ano, volume suficiente para abastecer o motor de mais de 1 milhão de carros de passeio. Na verdade, a Embraco ? controlada pela Whirlpool, por sinal uma de suas clientes ? é líder mundial na produção de compressores para geladeiras e freezers. E usa todo aquele óleo não para abastecer motores, mas os cerca de 30 milhões de compressores que fabrica no mundo por ano.


Isso tudo, porém, começa a pertencer ao passado. A Embraco desenvolveu uma liga metálica autolubrificante. Com ela, os compressores serão menores, mais silenciosos, terão maior eficiência energética e... não vão precisar de óleo. Trazem, portanto, um evidente benefício ao meio ambiente. Inovações como essa são produto de uma estrutura que conta com mais de 500 engenheiros e 40 laboratórios no mundo. Ah, sim, a liga poderá vir a ser usada em motores.


Pequena empresa RPH


O ?Best Innovator ? As Empresas Mais Inovadoras? premia também uma pequena empresa, considerada aquela com faturamento inferior a R$ 400 milhões. A eleita deste ano é a RPH, que produz radiofármacos usados em medicina nuclear diagnóstica. A empresa está desde 2004 instalada no Tecnopuc, parque tecnológico da PUC gaúcha que estimula a pesquisa e a inovação.


WEG


Fabricar um novo motor requer inovação em várias etapas, do projeto ao uso de ferramentas e materiais


Para uma multinacional brasileira como a WEG, com metade da receita obtida no exterior, inovar é essencial, porque a concorrência é pesada e a meta, ambiciosa: triplicar o faturamento total para R$ 20 bilhões até 2020. Um desafio que vem sendo vencido. A empresa já consegue 69,1% do seu faturamento com produtos lançados nos últimos cinco anos. Em motores industriais, o carro-chefe da companhia, o índice é bem maior, 90,7%.


Como outras grandes empresas, a WEG tem canais para receber e fazer circular ideias entre os funcionários ? são 28 mil no Brasil e exterior. As propostas são enviadas a um comitê e analisadas em várias etapas, de projeto conceitual a protótipo e, depois, em testes finais antes da fabricação.


São muitos os detalhes para inovação numa indústria mecânica. Um caso emblemático para a WEG foi a linha de motores W22, cuja proposta era substituir a anterior para oferecer mais eficiência, menos vibração e ruído e facilidade de manutenção. Foi necessário reprojetar todo o modelo anterior e usar novos materiais e ferramentas. E o W23 já está a caminho.


Elétricas


Quatro empresas de energia ? Coelce, AES, Eletronorte e CPFL ? estão entre as dez que completam o ranking


Coelce


Distribuidora de energia do Ceará, instituiu uma bolsa de inovação. Funciona com a lógica das bolsas de valores. Nela, os funcionários podem lançar ideias no mercado ou investir naquelas que já foram apresentadas.


AES


A inovação está alinhada com os seus principais eixos estratégicos, caso das áreas de novos negócios, eficiência operacional, segurança e satisfação dos clientes.


Goodyear


Pneus normalmente estão associados a momentos ruins ? só se lembra deles quando furam. A Goodyear inova na forma de se comunicar, sem tecnicismo, buscando ser mais útil ao consumidor.


Brasilata


Os funcionários são contratados como inventores. Têm como missão contribuir com ideias novas. Mas há tolerância com erros ? o turnover é baixíssimo.


Tecnisa


A construtora aposta no digital. Um aplicativo para tablets ajuda na escolha do imóvel com parâmetros como localização e serviços ao redor. Permite até a comparação com os da concorrência.


Algar Telecom


Tem una escola de negócios, a UniAlgar. Conta também com uma equipe de inovação que viaja por todo o Brasil visitando universidades e empresas para trocar ideias e chegar às melhores práticas.


Eletronorte


Adota a metodologia TPM (Total Productive Maintenance, ou Manutenção Produtiva Total) integrada com inovação para busca de eficiência, com menores custos e maior qualidade.


CPFL


Visão de futuro faz parte do eixo de inovação da empresa, que planeja as atividades de acordo com o que imagina serão as cidades em 2030. Nesse contexto, toca um projeto de carro elétrico.


Fiat


A empresa montou uma arrojada arquitetura de inovação, com mapeamento de vários vetores de mudanças. Com base nesses cenários, foge do mero empirismo e traça o plano de voo para atender às tendências do consumo.


Vale


O Instituto Tecnológico Vale faz análises geofísicas de todo o planeta para prever impactos da atividade daqui a 50 anos nas áreas relevantes para a companhia.

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